terça-feira, 25 de agosto de 2009

Comunidade Córrego da Furtuna

O documentário “Estamira” relata a história de uma senhora em meio a um lixão. Um filme bastante crítico que expõe, claramente, o descaso governamental para com a sociedade mais carente, não deixando de enfocar a influência do meio na questão Psico-social
e consequentemente na saúde, pois a mesma não é somente o bem estar físico, e sim uma complexa rede que inclui fatores sociais, ambientais e psicológicos. Além disso, possui elevada carga ética e emocional que são ministradas pelas falas da personagem Estamira.
Estamira é uma mulher que teve uma vida conturbada desde a infância. Quando criança sofreu abuso sexual, fato que volta a acontecer durante sua vida adulta, e que a faz perder gradativamente a confiança no outro. O fato de a personagem ter passado por relacionamentos difíceis –nos quais, a traição se fez presente- e que a levara a abdicar de seu relacionamento com a mãe, repercutiu de forma decisiva na sua “qualidade de vida”. E a última separação parece ter sido o “limite” do que se pode suportar. Ela, então, se entrega a miséria do lixão.
“Montanhas que fumaçam” esta é a definição do meio que Estamira vive. Não são vulcões, mas montanhas de lixo em processo de decomposição que liberam gases tóxicos e permitem a proliferação de inúmeras infestações de animais nocivos à saúde humana. Dessa forma, doenças como a leptospirose, as infecções intestinais, o botulismo, a cólera e a dengue tornam-se freqüentes e alarmantes. Logo, a constatação de que homens, insetos e urubus competem pelos restos encontrados no lixão é intrigante, e nos faz refletir sobre a nossa posição diante da dor do outro.
Nessas condições, não se pode falar de “saúde” física quando ao homem é negado o direito ao acompanhamento psicológico, social e educacional. Acompanhamentos, estes, que não apenas permitam uma melhor qualidade de vida para o indivíduo doente, mas que, também, atuem de forma preventiva.
No documentário, falas como: “Eu sou Estamira, eu to cá, eu to lá, eu to em todo lugar’’; “esqueceram da gente, somos tratados como monstros”, revela a invisibilidade perante o governo e a sociedade. Mostram, também, a proporção do problema e até onde pode chegar a falta de cuidado e responsabilidade daqueles que governam. Portanto, a percepção de que somos todos sujeitos e agentes no meio e que não podemos permitir a existência de “Estamiras” em nossa sociedade, é fator fundamental para a transformação do meio. E para isso, é necessário nosso envolvimento nos questionamentos, na cobrança e nas questões político-sociais.
Em Estamira pouco pode se falar de esperança, já que ela perdera - segundo a medicina - o senso comum, a percepção do real, a crença no outro e naquilo que ele pode oferecer. Já não são válidas as instruções médicas, tão pouco, as orientações e interferências, tão pouco, as orientações e interferências daqueles que a cercam. Para a personagem, a vida se resume ao que o lixão proporciona. São poucos os momentos de 'lucidez', contudo, suficientes para que nela seja despertado o desejo de justiça e revolta social.

2 comentários:

  1. Grupo Córrego da Fortuna, o texto de vocês ficou muito bom. Fizeram ótima associação entre a história de vida de Estamira (suas desgraças e mazelas) com a situação atual dela e a incompetência governamental. parabéns!

    Mariana Olívia

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